31.12.07

Um pouco de definição

Persefone, de Marta Dahlig (blackeri no deviantART)

"Mas como diria o intrépido cowboy, fitando o bandido indócil:
A alma é o segredo, a alma é o segredo,
A alma e o segredo do negócio."
(Balada do Asfalto, de Zeca Baleiro)

Este fim-de-semana foi o casamento da minha amiga-irmã. Eu não sabia se ficava triste, por estar perdendo a minha amiga para um marmanjo, ou feliz, pela felicidade dela. Decidi ficar feliz, porque perdida pra esse marmanjo ela já estava há anos, e há anos eu o tinha tomado por amigo também (se não pode com o inimigo, una-se a ele, não é assim?).
Fiquei feliz, mas não imaginava o quanto isso ia mexer comigo.

Comecei a perceber que não era um acontecimento fácil quando a minha amiga entrou na igreja. Chorei. Eu chorei num casamento, imaginem! Mas não era qualquer casamento. Era o casamento da minha irmã. Irmã esta que, se não pôde ser biológica, a vida tratou de nos explicar que o éramos, sem explicar os porquês destes laços tão fortes.


Chorei quando a vi tão linda! Talvez tenha chorado como a mãe, o pai, o noivo. E comecei a refletir no post anterior deste blog, dos meus medos e incertezas no amor, talvez mesmo na minha desesperança. Comecei a relembrar as muitas histórias de amor juntas naquele ambiente, além daquela que ocupava o altar num duo branco-vestido/preto-terno. Encontros e desencontros, muitos, alguns com final feliz, outros, infelizmente, com finais estranhos.
O amor do altar, antigo, persistente, com momentos regados a lágrimas, e outros com muitas gargalhadas em bg. Um amor que acompanhei de perto, e vi todas as suas dificuldades, dúvidas, sofrimentos e momentos bobos de rostos apaixonados. Não teve jeito, casaram-se. Mais certeza, impossível - era a certeza dos noivos, dos amigos, da família. Ia ser assim mesmo. E foi lindo.

Dos outros amores ali presentes, havia o que começou depois de convivência e se tornou eterno; o que não ficou perto e sofria a perda para outra pessoa; o que começou como consolo e se tornou a razão; aqueles com mais de 20 anos de história; aqueles improváveis que deram certo, e os bonitos que se perderam no tempo... Os que puderam ser e os que não puderam. Mas quase todos os protagonistas estavam felizes. E eu pude ter mais uma esperança que amar pode mesmo dar certo, e voltei a acreditar nisso.

Pensei, então, em mudar os meus desejos, expostos como Algo Muito Difícil de Definir: neste novo ano que vem, me desejo muita sorte, muitas felicidades, muito dinheiro e bons amores, talvez um só. Mas muito bom.

14.12.07

Algo muito difícil de definir

P.A.R.A.D.I.Z.E, de Kmye Chan (kmye-chan no deviantART)

“Poderia se chamar silêncio
Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo
E poderia simplesmente não se chamar
Para não significar nada e dar sentido a tudo”

(Não deveria se chamar amor, de Paulinho Moska)


Bonito para os odes poéticos, mas doloroso para quem vive... Acho que é isso que sinto. Algo que não me impede de viver, nem fada a minha vida à infelicidade, mas que não me deixa.

Acredito muito nesta história de poder amar várias pessoas ao mesmo tempo – são diferentes formas de amor. Assim como amamos nossos pais, nossos amigos, há as formas de se ter seres amados. Podemos transformar estas ligações, querendo, ou mesmo sem querer.

Há pessoas que se tornam importantes na nossa vida, mesmo que o sentimento hoje seja carinho e nada mais. Mas há pessoas que deixam algo latente em nós, que, ao menor estímulo, fazem vibrar todas as nossas veias, artérias, nervos e tudo aquilo que seja possível. Não que não seja possível apaixonar-se por outras pessoas e viver muitas coisas boas e intensas, mas a lembrança destas especiais é muito mais... Sei lá, muito mais.

E sinto que, mesmo vivenciando tudo de bom que a vida promete (e cumpre!), isto que não sei denominar vai me acompanhar, lado a lado, sem me encarar de frente, me fazendo querer ser melhor por alguém que pode não perceber, ou se interessar pelas minhas mudanças. E nessas horas, espero poder ter alguém para enxugar as minhas lágrimas decorrentes destas lembranças, sem me perguntar o porquê exato, e eu me apaixonar ainda mais por ela por estas coisas.

Às vezes sinto muito medo de não poder ficar com a pessoa amada “por toda a minha vida”, seja ela quem for, daqui pra lá. Venho de um contexto um pouco incomum na minha contemporaneidade, de pessoas que se casaram por amor e permanecem assim até hoje. Escuto histórias, muitas histórias, de pessoas que casaram com outras de que gostavam, mas amavam uma terceira; de pessoas que se casaram para não ficarem sozinhas; de pessoas que casaram apaixonadas e se divorciaram com ímpetos homicidas; de pessoas que se magoaram muito nessa história; de pessoas que nunca casaram e se sentem solitárias... Poucas histórias escuto de pessoas que casaram por amor e assim estão há 30 anos, ou de pessoas que optaram por ficar sozinhas e são muito felizes desta forma – e são as duas únicas alternativas que me permito.

Neste ano novo que vem, me desejo muita sorte, muitas felicidades, muito dinheiro e bons amores.

13.12.07

Observar

Escondido (por debilmental no deviantART)

"me vi ali
e te vi também – não sou egoísta!
me encantei com isso e percebi
que não me encontrava à tua vista

achei que não me vias...
mas o que é ver?
não preciso que me vejas:
não sou exibicionista

o que interessa é que observo
e que, apesar da tua roupagem,
imagino,
e começo a me sentir aquilo que esqueci o nome"


(Observar, de Thiago Neloah)

Sacrossanto

Sacrossanto, de Bela Almeida


Minha vida se apóia
Em um palco sacro
E sua finalidade
Remete a um propósito santo

Meu corpo se apóia
Em um amparo sacro
Centro do eu meridiano
Imagem e semelhança do corpo santo

Sendo assim
Santo e sacro
Meu ser
Sacrossanto



25.11.07

Conto Instantâneo - Pronto em 3 minutos! (Bela Almeida)

White tiger, de Maria Goldenberg (Sparky-Golden no deviantART)

"- Você talvez precise de um tigre - ela disse."

Ambiciosa

Apollo e Daphne, escultura de Bernini

"Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar,

Nunca os meus braços lânguidos traçaram
O vôo dum gesto para os alcançar...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar...
- Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar!

Minha alma é como a pedra funerária
Erguida na montanha solitária
Interrogando a vibração dos céus!

O amor dum homem? - Terra tão pisada!
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? - Quando eu sonho o amor dum deus!..."

(Ambiciosa, de Florbela Espanca)

17.11.07

Conto Instantâneo - Pronto em 3 minutos! (Bela Almeida)

A corda..., de Nuno Casimiro (nunocasimiro no deviantART)

"Foi dando corda, dando corda... Até não haver mais corda para dar."

14.11.07

Conto Instantâneo - Pronto em 3 minutos! (Bela Almeida)

Death, de André (rurouni26 no deviantART)

"Furiosa, pegou o cortador de charutos e a foice. E foi-se embora."

Madrugada

Upside Down, de Kmye Chan (kmye-chan no deviantART)


Passei a madrugada
derramando poesia

Tcharráfna Ktir

Belly Dance, de Sara (Contrapposto no deviantART)


Quando danço
A vida de mim se apodera
Fazendo-me fera
Mais bela

Consciente do que sou
E do que tenho vontade de ser
Vibrante
Pulsante

Ao som dos címbalos
Darbukkas e Tablas
Fazendo vibrar o Daff
Como vibra meu corpo

E, pulsando
Assim
Envolvida pelos sons místicos
Vou bailando
Num transe mítico

Conto Instantâneo - Pronto em 3 minutos! (Bela Almeida)

Esfinge do sul da Itália, datada do século X, que pertenceu a Freud.


"E a esfinge teve uma indigestão."

12.11.07

Ensaio sobre sombra e luz

Auto-retrato, do sol pra areia da praia, formada por luz e sombra


Somos feitos de sombra e luz. Todos temos um pouco de sombra e um pouco de luz, assim, meio ‘yin yang’.

E não se trata de erradicar a sombra por completo e deixar somente a luz. Porque a sombra faz parte da gente, e luz demais nos deixa atordoados, visto que somos seres imperfeitos. Parafraseando Lispector, nunca se sabe qual o defeito que sustenta o prédio inteiro.

Aprender a conviver com nossa sombra – que não é, necessariamente, nosso lado mau, como parece-nos ao dizer ‘lado sombrio’. Podemos olhar também pelo viés de que é o nosso lado introspectivo, escondido, misterioso. Isso não é ruim.

A sombra e a luz é que nos dão o sentido de profundidade das coisas.
A depender da dosagem de sombra, ou de luz, a percepção de profundidade é alterada. Se há mais luz que sombra, tudo parecerá mais superficial. Mais sombra que luz, profundo demais.

A sombra sozinha nos dá a idéia de algo sem fim, tão profundo que parece não ter fundo. Por outro lado, a luz isolada dá a idéia de que é raso, muito raso (e quando há luz em demasia, pode-se ter um problema em sair achando que tudo é raso). Quando do equilíbrio das duas – voltamos ao ‘yin yang’ –, podemos inquirir a verdadeira profundidade das coisas.

Vim pensando nisso no ônibus. Ao chegar em casa, e pesquisar um pouco no google, descubro que não estou só: muitas pessoas também fizeram esta alegoria.

Raimundo Gomes, mestrando em filosofia, em seu blog, diz que “é na sombra que vemos a profundidade dos espaços”.

O fotógrafo Ângelo Pinto afirma ainda que, em casos extremos, a sombra sugere mais informação que o objeto.

O escultor coreano Lee Yong Deok expõe este pensamento de outra forma, brincando com a profundidade nas suas esculturas através de sombra e luz (mostra A Profundidade da Sombra).

Outro que viaja nessa de luz e sombra é o diretor do Museu de Arte de Macau, Ung Vai Meng, que indaga (inspirado nas esculturas de Lee): “Será devido à reexo de luz forte e fraca que resulta em cambiantes sobrepostas?” (Também não entendi direito o reexo, seria reflexo? Em Macau se fala português, mas não o nosso português).

Junichiro Tanizaki consegue ir mais longe – associa luz e sombra até mesmo à culinária, ao paladar (isso que é sinestesia!). No seu livro Em louvor da sombra, discorre sobre a poesia que há no jogo de luz e sombra na comida japonesa. Num dos trechos, em que fala do doce youkan, chega a dizer que o sabor parece mudar pelo fato de a sombra tê-lo “acrescido de estranha profundidade”.

Porém, uma coisa é certa: quanto mais perto da luz estamos, mais nítida a sombra é projetada.

Como foi que desaprendi de ser humana?

Girl with hair ribbon, de Roy Liechtenstein


"Devo viver entre os homens
Se sou mais pêlo, mais dor
Menos garra e menos carne humana ?
E não tendo armadura
E tendo quase muito de cordeiro
E quase nada da mão que empunha a faca
Devo continuar a caminhada ?

Devo continuar a te dizer palavras
Se a poesia apodrece
Entre as ruínas da CASA que é a tua alma ?
Ai, luz que permanece no meu corpo e cara:
Como foi que desaprendi de ser humana?"


(Hilda Hilst)

Duas constatações

Queda (por TriviaBitter no deviantART)

"O copo cai e
quebra.
O corpo cai e
berra."

(Duas constatações, de Thiago Neloah)

8.11.07

Microconto

Depois da Chuva (de UpaUpa no deviantART)


"Vai nessa que o buraco é raso e a razão é funda."

(Flávio de Almeida)

Conto Instantâneo - Pronto em 3 Minutos! (Bela Almeida)

Porta Chiusa - Vigevano, Lombardia, Itália (por XElYX no deviantART)


"Estranhou aquele adeus. Mas, fechou a porta."

6.11.07

Só deixo meu coração na mão de quem pode

Felicidade em suas Manos, de Luís (lhlins no deviantART)

Não resisti e, ainda inspirada pelo post anterior, compartilho com vocês a letra da música final do filme:

"Só deixo meu coração na mão de quem pode
Fazer da minha alma suporte para uma vida insinuante
Insinuante anti tudo que não possa ser
Bossa Nova Hard Core
Bossa Nova Nota Dez

Quero dizer, eu tô pra tudo nesse mundo
Então, só vou deixar meu coração, a alma do meu corpo, na mão de quem pode
Na mão de quem pode e absorve
Tanto no céu que no inferno
Inspiração de Mutação
Da vagabunda intenção
De se jogar na dança absoluta da matança do que é tédio, conformismo, aceitação

E eu fico aqui, vou te levando nessa dança
Sobre o mundo
Pode tudo do amor
Pode tudo do amor

Porque eu não quero teu ciúme, que é o cúmulo
Ciúme é o acúmulo de dúvida, incerteza de si mesmo, projetado
Assim jogado como lama anti-erótica na cara do desejo mais intenso de ficar com a pessoa
Eu não tô a toa
Eu sou muito boa

Eu sou muito boa pra vida
Eu sou a vida oferecida como dança
E eu não quero "te dar gelo"
Diabos que o carregue

Vê se aprende, se desprende
Vem pra mim que sou a esfinge do amor
Te sussurrando
Decifra-me, decifra-me

Só deixo minha alma, só deixo o coração
Só deixo minha alma na mão de quem pode

Vê se aprende, se desprende

Só deixo minha alma, só deixo meu coração
Na mão de quem ama solto!"

(Só deixo meu coração na mão de quem pode, de Kátia B e Marcos Cunha)

Não Por Acaso

Cena do filme Não Por Acaso

“Só deixo minha alma, só deixo meu coração
Na mão de quem ama solto!”

(Só deixo meu coração na mão de quem pode, de Kátia B e Marcos Cunha)



Acabo de chegar do cinema, onde assisti Não Por Acaso. Um filme que eu, mesmo já tendo comprado o ingresso, tinha pensado em não assistir. Mas, como o próprio nome do filme, não foi por acaso. Mesmo.

Utilizando uma das (muitas) metáforas do filme, a vida é mesmo fluida. E nós somos partículas, fluindo e nos atraindo (ou repelindo) vida afora. Não Por Acaso me botou pra pensar em como as coisas acontecem de maneira louca na nossa vida, e a gente pensa que não tem porquê. Na verdade, a gente nunca sabe o porquê, e é tudo perfeito demais pra achar que é acaso.

Um filme inteligente, que nos põe pra refletir, que fala de amor sem ser piegas, que fala da vida sem clichê, que é um drama, mas não é melancólico. Saí do cinema flutuando, super inspirada. Era o gatilho que faltava para liberar essa felicidade presa cá dentro, sufocada por contas, prazos, falta de grana, estes problemas que existem, mas que muitas vezes a gente superestima.

Como nada é por acaso, acontecimentos recentes se juntaram à minha interpretação do filme e tomaram significados diferentes – muitos passaram mesmo a fazer sentido. “Deixe de lado o medo, as decisões pertencem a você!”

E não é por acaso. Não mesmo.


P.S.: Uma das últimas cenas do filme, a do café (que não vou detalhar, pra não perder a graça pros que ainda não assistiram), reitera meu primeiro post neste blog. Será que existem muitos Pedros por aí, capazes de grandiosos gestos pequenos?

5.11.07

Vida

Gargalhada, de Sarah Lee (Rockleesett no deviantART)

"A vida é uma piada cósmica.
Ela não é um fenômeno sério.
Leve-a a sério e você continuará a perdê-la.
Ela é compreendida apenas através da risada."

(Osho)

...

Masked Face 6, por Joey (Vapor2005 no deviantART)


Quem é
este ilustre (quase) desconhecido
que aparece
todos os dias
nos espiões do meu
orkut?

Que quer
aparecendo
tout-les-jours
entre os
bisbilhoteiros
do meu orkut?

Que pensa
que pensarei
ao vê-lo
hoje e amanhã
e depois
dentre os voyeurs
do meu
orkut?

(Talvez por
tê-lo eu feito
também?)

Quando
este ilustre (não tão) desconhecido,
não-anônimo,
passará
a
ilustre (então) conhecido?

...

A Coluna Quebrada, de Frida Kahlo

Este
não é o meu eu lírico
É o meu eu íntimo
o meu eu empírico
o meu eu vívido

E abusarei
de licenças poéticas
'proséticas'
proféticas
impunes

E não pedirei licença.

2.11.07

Conto Instantâneo - Pronto em 3 Minutos! (Carol Sá)


"No altar a cruz caiu em sua cabeça. O casamento acabou!"

(Carol Sá)

1.11.07

Conto Instantâneo - Pronto em 3 Minutos! (Bela Almeida)

Fotografia retirada do site Casa dos Poemas (http://www.casadospoemas.com.br/ntc/default.asp?Cod=14)

"Tinha a faca e o queijo na mão. Mas faltava a goiabada!"

Pronto,
meu primeiro
microconto!

31.10.07

Conto Instantâneo - Pronto em 3 Minutos! (Tainã Moura)


"Era alguém. Gostava do real, mas não da realidade."

(Tainã Alcântara)

Contos Instantâneos - Prontos em 3 Minutos

Amplamente inspiradas n'A Casa das Mil Portas, três blogueiras aspirantes a alguma coisa literária, diante da impossibilidade de criar para a Casa, decidiram criar um movimento alternativo de microcontos.

Microcontos são contos com, no máximo, 50 letras. Mas que dêem a idéia de uma cena, de uma situação. De uma história. É um desafio e tanto!

Para tanto, conto com a parceria dos blogs Essências e Lady Desdém.

Participem!

30.10.07

Impressionista

Horizonte, de Moacir (s150 no deviantART)

"Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo."

(Impressionista, de Adélia Prado)

...

Saying good bye - Acid Rain, de Brian Mackey (newjerseydigital no deviantART)

Não quero um ph neutro,
talvez me contentasse com um básico.
Hunf!
Antes um ácido!

29.10.07

Estou assim, digamos... estranha.

Landscape with Pollard Willows, de Vincent van Gogh


"If my pillow could talk
Imagine what it would have said..."
(Cry Me a River, de Ella Fitzgerald)

Aqui estou, em casa (em casa, viram? Fato raro...), nesta noite, digamos, estranha, escutando Ella derramar Cry Me a River como um rio nos meus ouvidos... Isso depois de ter ouvido uma seqüência séria de músicas, digamos... estranhas. Digo muito “estranhas” porque o que sinto é algo meio indescritível. Não é melancolia, não é felicidade, não é reflexão. É uma saudade eu sei do quê (ou melhor, de quem), mas não é triste, é tranqüila. Mas também não é feliz, pois essa saudade não será resolvida.

Não vou chorar, algumas vezes até ensaio um sorrisinho ao lembrar de coisas boas! Tá, às vezes bate aquela comoção e os olhos enchem, mas as lágrimas não são tão insanas ao ponto de saltarem, suicidas. Pra quê?

Depois de muito tentar e me contorcer, desisti de esquecer. Não consigo mesmo, pra que ficar fazendo esforço à toa? Percebo, ao menos, que quando estou realizando algo que precisa de atenção ou alguma atividade em grupo (vale balada com os amigos), consigo não pensar. Assim já tá bom – tô conseguindo desenvolver uma simbiose com isso aí que eu não sei como chamar. Sentimento? É, talvez seja.

Mas a vida tem umas surpresas engraçadas. Agora escuto Beatles, e lembro de outras coisas. Outra pessoa. Que não ocupa este lugar, mas já é alguém pra dividir o espaço nos meus pensamentos. Se quero? Sei não. Não sei mesmo...

Ando lírica, sei. E não acho isso ruim. Gosto do meu lirismo esquisito, meio objetivo demais, às vezes, e não-romântico para quem não está acostumado, ou não tem bom humor. Ah, eu tenho... E gosto disso também. Sorrisos e risos são muito afrodisíacos, sim senhor. E românticos, por que não?

Depois de discorrer sobre a estranheza desta noite refletida cá dentro e sua relação com minha playlist, encerro com Jack Johnson. Dreams be Dreams. No randômico. Será que é um sinal? Olha que eu acredito...


Espinhos

Cactus Sunset - Saguaro, de Joel Hanger (Delusionist no deviantART)

"O teu nome continua intacto
no deserto da minha mente
como um cacto."

(Espinhos, de Thiago Neloah)

...

Almost Roy, de Isabela Almeida (belaalmeida-s no deviantART)

Mas este
não é o meu problema
O meu problema
é te amar tanto
e não valer a pena

Microconto

Phases oppositions, de Kmye Chan (kmye-chan no deviantART)

"Sequer houve um início. Como seriam felizes para sempre?"

(Vitor Hugo Munaier)

Tendo a Lua

Foto da lua cheia tirada do quintal do vizinho dos outros (Crédito da foto: Thiale Moura)

"Hoje joguei tanta coisa fora
Vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias, gente que foi embora...
A casa fica bem melhor assim

O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Querendo ver o mais distante, e sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu

Tendo a lua,
aquela gravidade onde o homem flutua

Merecia a visita,
não de militares,

mas de bailarinos,
e de você e eu..."

(Tendo a Lua, d'Os Paralamas do Sucesso)

26.10.07

Olhos Sensíveis


"Meu oftalmologista
disse
que tenho olhos
sensíveis

Fitei-o com ar de
Poeta."

(Leonel Delalana Júnior)

Flor de Lótus

Raindrops, de Charlene Chua (sygnin no DeviantART)

"No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração."

(Flor de Lótus, de Rabindranath Tagore)

...

Lost In A Book, de Kyle Keali'i Apuna (indie-cisive no DeviantART)


Já que minha vida
é um livro aberto
posso escrever
criptografado?

25.10.07

Amargo

Forbbiden fruit, de Daniela Uhlig (lolita-art no DeviantART)

"O vinho podre que escorre das xícaras
O mel amargo, o meu coração
De onde quer que tudo venha
Tudo irá pra onde nada nunca se alcança
De onde quer que tudo venha
Tudo irá pra onde nada nunca se alcança

Tenho a memória de tudo que existe
Tudo que é triste e alegre ou não
Eu guardo as flores mortas na sala
Eu faço sala pro tempo
Eu guardo as flores mortas na sala
Eu faço sala pro tempo

Ainda que tarde, agora que é tarde
Sempre é cedo, cedo
Ainda que tarde, agora que é noite
Eu sinto medo..."

(Amargo, de Zeca Baleiro)

...

Horizonte, óleo sobre tela de Henrique Vaz Duarte

Estarei eu bela
no seu belo horizonte?

Finalmente, Florbela!

Florbela Espanca (1894-1930), poetisa portuguesa e precursora do feminismo naquele país

Falo tanto de Florbela e, no entanto, não tinha um único poema seu no meu blog. Quando apercebi-me, não era tarde demais: ei-lo! (E tenho certeza que vai ter gente me zoando por ter colocado essas ênclises todas...)

"Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vinda foi três vezes santa!

Erva do chão que a mão de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!

Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda..."

(Supremo Enleio, de Florbela Espanca)

Vivem em nós inúmeros

Plane Filling II, de M. C. Escher

"Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo."


(Vivem em nós inúmeros, de Ricardo Reis)

24.10.07

Retratação pública e particular

Eu queria insistir na idéia de ter um blog bonitinho, mesmo que sacrificasse um pouco os comentários. Não deu. Foram muitos contra uma, até que, depois de um telefonema de hoje pela manhã, me convenceram. Mudei. Até transferi os posts do blog antigo, para não caírem no baú do esquecimento. Pronto.

E até que ficou bonitinho! rs

As coisas como elas são...

Foz do Iguaçu. Fotografia retirada do site http://www.gobrasil.net/hotels/fozdoiguacu/indexPOR.shtml

"Conheceram-se em
Foz do Iguaçu.
Ele fez promessas e
juras de amor.
Era tudo cascata."

(Confiar desconfiando, de Reynaldo Sanchez)

...

Pôr-do-sol visto do Solar do Unhão (Crédito: Claudiane Janebro)

O mar
encanta
a minha amiga
que arde

...

(que ironia, do site do Senado...)


Que coisa predatória
É o cheque pré-datado!

Blog Antigo - postagem de 18/09/07

Pucca e Garu, do desenho sul-coreano Pucca - www.puccaclub.com

"I want a love that’s right,
But right is only half of what’s wrong,
I want a short haired girl
Who sometimes wears it twice as long.

I’m stepping out this old brown shoe,
Baby, I’m in love with you,
I’m so glad you came here
It won’t be the same now,
I’m telling you.

You know you pick me up
From where some try to drag me down,
And when I see your smile replacing,
Ev’ry thoughtless frown,

Got me escaping from this zoo,
Baby, I’m in love with you,
I’m so glad you came here
It won’t be the same now,
I’m telling you.

If I grow up I’ll be a singer,
Wearing rings on every finger,
Not worrying what they or you say.
I’ll live and love and maybe some day,
Who knows baby,
You may comfort me.

I may appear to be imperfect,
My love is something you can’t reject,
I’m changing faster than the weather,
If you and me should get together,
Who knows baby,
You may comfort me.

I want that love of yours
To miss that love is something I’d hate,
I’ll make an early start
I’m making sure that I’m not late,

For your sweet top lip
I’m in the queue,
Baby I’m in love with you,
I’m so glad you came here
It won’t be the same now
When I’m with you."

(Old Brown Shoe, dos Beatles)

Blog Antigo - postagem de 18/09/07

Boca Misteriosa Que Aparece Nas Costas da Minha Ama de Leite, de Salvador Dalí.

"I love you so,
I'm the one who wants you,
Yes, I'm the one who wants you..."

(I'll Be Back, dos Beatles)


15h50 - Leio e-mails antigos, finalmente convencida pelo Yahoo, que agora incita as pessoas a buscar mensagens de paixões antigas. Pra que isso, né? Ao mesmo tempo, abro, em outra janela do navegador, o meu horóscopo. Coincidência? Subconsciente? Esperança? Sei lá. Vai que encontro uma correlação? Possibilidades quase nulas. Mas o que é a vida sem tentativas, não é, minha gente?

15h54 - Lembro que, da pasta Importante!, criada no auge da historinha, as mensagens foram parar na pasta Etc. Uma tentativa (fracassada, sei) de fazer parecer algo com menos importância. E de não saltar aos olhos todas as vezes que olhasse para a tela. Não salta aos olhos, ao menos serve para alguma coisa. Mas não faz disso menos importante.

15h56 - Abri a primeira mensagem. Leio ou fecho o navegador sem nem olhar? Hum... Muitas dúvidas.

15h57 - Achei mais sensato olhar primeiro o horóscopo. Tá, sensato não foi. Tô fugindo mesmo, assumo. Nossa, o horóscopo sabe das coisas:
"Sentimentos profundos estão marcando seu dia. Pessoas do passado podem estar voltando à sua lembrança, ou mesmo aparecendo na sua vida. Use mais a razão neste momento."

E eu me culpando por lembrar tanto! Ah, está escrito nas estrelas, caramba, não posso fazer nada. Definitivamente, a culpa não é minha. A pessoa do passado volta à minha lembrança, espero ardentemente que apareça na minha vida. Seguindo os conselhos do horóscopo, vou usar minha razão.

15h59 - Fechei o e-mail sem nem ler as mensagens. Com um horóscopo filho-da-mãe desses, é melhor não se martirizar.

16h00 - Acabo aqui este post idiota. Agradecimentos a quem leu - se aturaram esta ladainha até aqui, gostam mesmo de mim. Ou me acham engraçada. Sem problemas. :)

Blog Antigo - postagem de 10/09/07

Fotografia retirada do blog Pegadas na cauda de um cometa (pesdomundo.blogs.sapo.pt)


"o amor~tece
apara~quedas
do~ssel
d~onde
nu~vens"

(te~ar, de Christiana Nóvoa)

Blog Antigo - postagem de 05/09/07

O quarto de Arles, de Vincent van Gogh.

"Gosto da casa
Depois que o barulho vai embora
Depois da luz, dos risos
Depois do convívio
Quando respiro sozinha
E ouço cada palavra
Que o coração não ousa
Se existem testemunhas"

(Por dentro 1, de Lou Bertoni)

Blog Antigo - postagem de 03/09/07

Estação Ferroviária de São Francisco, na cidade baiana de Alagoinhas. Atualmente, está abandonada. Esta foto, datada de 1989, foi retirada do site Estações Ferroviárias do Brasil - www.estacoesferroviarias.com.br/ba_paulistana/sfrancisco.htm.

"E o meu coração, embora finja fazer mil viagens
Fica batendo, parado, naquela estação."
(Naquela estação, de Caetano Veloso)


Na odisséia de tentar esquecer alguém, vamos atrás de outros alguéns, saímos, nos divertimos, viajamos, procuramos motivos para ficarmos cada vez mais ocupados e pensarmos menos. E aí, a gente se dá conta de que não consegue esquecer esta pessoa. Não que isto seja tão ruim assim. Mas não é necessariamente bom. É... incômodo. Como cólica menstrual de gente normal, que não é uma dor incapacitante, mas é chata como o diabo!

Você já aprendeu a viver com isso, já se conformou que o cara não te quer, já aprendeu a lidar com a rejeição, mas ainda não perdeu a esperança. Tudo bem que a esperança é a última que morre, mas esta está sobrevivendo demais! Se ela não quer morrer, por que não dorme, hiberna, some da vista? Tá ficando chato.

Há contradição maior do que um coração bater parado (na mesma estação)?

Blog Antigo - postagem de 02/09/07


Alguém sabe a tradução? Eu também não. Rs
(Vamos aprender bambara!)


O laka lamma le

O laka lamma le

O laka lamma le dja

O laka lamma le


Se jolaka lamma le

Se jolaka lamma le

Se jolaka lamma le dja

Se jolaka lamma le

O laka lamma le

O laka lamma le

O laka lamma le dja

O laka lamma le


Se jolaka lamma le

Se jolaka lamma le

Se jolaka lamma le dja

Se jolaka lamma le


Ay ihe geba geta singurna yeah

Ilina in a nara sa

Oh oh

Ili la serna najih neja

Ilina ina nara

Ilina ina nara sa

Ili la serna najih neja

Ilina ina nara


A sid la nemma ra do m’sebbe toggorro no yee

Tama yoo pabba yo

A sid la nemma ra do m’sebbe toggorro no yee m’o

Tama yoo o’ pabba ho fago pib’ee


Ori tali ma je’ye

Ori tali ma je’ye

Ori tali ma je’ye

Ori tali ma je’ye

Ori tali ma!

(Madan, de Salif Keita & Martin Solveig)

Blog Antigo - postagem de 01/09/07

Bailarina, de Joan Miró.

"Pois não é fácil recuperar um grande amor perdido..."
(Que pena, de Jorge Ben Jor)


O que é um amor perdido? É um amor que se foi? Um que nunca esteve? Um que está adormecido? Um amor que nunca mais será vivido? Mas será que nunca mais será mesmo? Quem somos para dizer nunca mais? Ainda mais em matéria de amor!

Quantos relatos sabemos de amores que pareciam impossíveis e que deram certo, em detrimento de outros tão previsíveis que simplesmente não aconteceram. Quem pode dizer que um amor está perdido? Nós não prevemos o futuro, muito menos o que se passa no coração alheio! Quem sabe? Podemos dizer que o amor está perdido quando ele está perdido dentro da gente. Quando você não está com aquela idéia fixa, não pensa mais, mas tem a sensação de que não esqueceu, e que a qualquer instante isso pode despertar.

Tenho essas duas sensações. Pois tenho dois grandes amores perdidos. Um deles, se foi. Quem sabe um dia volta... O outro, está perdido aqui dentro. Não penso, não palpito mais... Mas parece que a qualquer momento aquela loucura volta. O primeiro, estou meio afastada, para curar a ferida. Quem sabe um dia ficamos amigos de fato. O segundo, estava afastada, me reaproximei. E é meu amigo.

E aí, qual dos dois paga a conta?

Blog Antigo - postagem de 31/08/07

Pitanga, esta fruta azedinha e deliciosa! Foto retirada do site http://www.pousadadascores.com.br/hortifrutigranjeiros/pitanga.htm

"I've got sunshine
On a cloudy day..."
(My Girl, The Temptations)


O poeta diz que faz versos como quem chora. Eu escuto músicas que são afagos. Você já sentiu isso? Músicas que, ao tocar, parecem abraçar-lhe, que são como um cuidado. Acabo de ouvir uma delas - My Girl, do grupo The Temptations. Não consigo ouví-la sem que uma sensação boa tome conta de mim. É um afago, assim como tomar um chocolate quente numa noite fria. É a sensação de que tem alguém cuidando de você. Neste caso, você mesmo. Mas é um cuidado, isso que vale.

Afagos no coração, como a comidinha da mamãe, o sequilho da vovó... Uma ligação inesperada de quem se ama. Uma lembrança de um amigo distante. Uma porção de pitangas colhidas do pé. Ganhar uma lata de cajuzinho em vez de ovo de páscoa. Achar algo que você já tinha perdido as esperanças de encontrar. Assistir um musical dos anos 40. Dançar no espelho, cantar no chuveiro. Uma massagem no pé.

Cuidado, carinho... Sensação gostosa!

Blog Antigo - postagem de 17/08/07

Posto iniciático localizado na Quinta da Regaleira, em Portugal (viram, um resgate ancestral agora! Também corre sangue português nestas veias!). Esta foto simplesmente linda foi retirada do site www.portugalvirtual.pt/_tourism/costadelisboa/sintra/regaleirap.html

"Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência."

(Se cada dia cai, de Pablo Neruda)