24.10.07

Blog Antigo - postagem de 11/08/07

O Beijo, de Gustav Klimt.

"Mas vem quebrar, com tuas mãos,
As duras setas do padecer.
Pedra do céu, fogo do ser,
Quieta me abre teu coração."
(Pietá, de Milton Nascimento e Chico Amaral)


Adoro esta tela de Klimt, "O Beijo". Quem conhece a arte deste cara, sabe que ele pinta as mulheres como verdadeiras deusas, poderosas, douradas, supremas, naturalmente sensuais. E aí ele me vem com este quadro, demonstrando que mesmo estas mulheres que exalam auto-confiança sabem ser frágeis diante do amor. Ah, a natureza feminina! A mulher do quadro, quase submissa - mas mesmo nesta posição, de joelhos, não deixa de denotar poder. Seja pela expressão serena do rosto, ou sei lá porquê.

A gente tende a achar que só pode ser uma coisa ou outra: forte ou frágil, caliente ou doce... Ah, pra que este maniqueísmo? Somos mulheres, caramba! "As duas faces de Eva, a Bela e a Fera", como canta a também maravilhosa mulher Rita Lee. Nossa natureza dúbia, tripla, enfim, nos permite ser o que quisermos. E como quisermos. Levei muito tempo e alguns pés na bunda pra perceber isso. Ainda assim, não assimilei totalmente, sempre que a oportunidade permite eu tropeço, sim. Mas sempre que me olho no espelho, me permito fazer caras e bocas. "A miserável", "a santa", "a sofredora"... São papéis que representamos, mas que fazem parte de todas nós. E temos que saber ser cada uma, e ser na hora certa (na hora errada pode dar muita dor de cabeça ou coisa pior).

Mesmo nos dias em que desabo, choro as pitangas, as maçãs e as cerejas, quando sossego, penso: "tá, vamos à outra parte". Tiro essa máscara e reviro o baú procurando uma cara melhor. Pode ser a tal "miserável", ou "a auto-suficiente", ou mesmo "a desencanada". Também são pedaços de mim, e assumem seus postos muito bem nesta hora - não me deixam fazer besteira. Neste caso, achar que sou a pior das mortais não rola - qual é, quem disse que eu sou mortal? Por que não posso ser Afrodite? Não dá pra ser Psiquê o tempo inteiro, né não?

Mudando de assunto, esse quadro também me faz pensar uma outra coisa: que beijo bom esse, hein? Só me lembro de ter sido beijada assim, literalmente enlaçada nos braços, envolvente, uma vez. Outros tentaram, mas esse que me deu o tal beijo "Klimt" (olha, o beijo acabou de ganhar um apelidinho) foi o único que fez certo. Não deu tempo de conhecer direito, nem me apaixonar... Mas torço pra ele aparecer no meu caminho de novo. E me dar outro beijo "Klimt".

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