31.10.07

Conto Instantâneo - Pronto em 3 Minutos! (Tainã Moura)


"Era alguém. Gostava do real, mas não da realidade."

(Tainã Alcântara)

Contos Instantâneos - Prontos em 3 Minutos

Amplamente inspiradas n'A Casa das Mil Portas, três blogueiras aspirantes a alguma coisa literária, diante da impossibilidade de criar para a Casa, decidiram criar um movimento alternativo de microcontos.

Microcontos são contos com, no máximo, 50 letras. Mas que dêem a idéia de uma cena, de uma situação. De uma história. É um desafio e tanto!

Para tanto, conto com a parceria dos blogs Essências e Lady Desdém.

Participem!

30.10.07

Impressionista

Horizonte, de Moacir (s150 no deviantART)

"Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo."

(Impressionista, de Adélia Prado)

...

Saying good bye - Acid Rain, de Brian Mackey (newjerseydigital no deviantART)

Não quero um ph neutro,
talvez me contentasse com um básico.
Hunf!
Antes um ácido!

29.10.07

Estou assim, digamos... estranha.

Landscape with Pollard Willows, de Vincent van Gogh


"If my pillow could talk
Imagine what it would have said..."
(Cry Me a River, de Ella Fitzgerald)

Aqui estou, em casa (em casa, viram? Fato raro...), nesta noite, digamos, estranha, escutando Ella derramar Cry Me a River como um rio nos meus ouvidos... Isso depois de ter ouvido uma seqüência séria de músicas, digamos... estranhas. Digo muito “estranhas” porque o que sinto é algo meio indescritível. Não é melancolia, não é felicidade, não é reflexão. É uma saudade eu sei do quê (ou melhor, de quem), mas não é triste, é tranqüila. Mas também não é feliz, pois essa saudade não será resolvida.

Não vou chorar, algumas vezes até ensaio um sorrisinho ao lembrar de coisas boas! Tá, às vezes bate aquela comoção e os olhos enchem, mas as lágrimas não são tão insanas ao ponto de saltarem, suicidas. Pra quê?

Depois de muito tentar e me contorcer, desisti de esquecer. Não consigo mesmo, pra que ficar fazendo esforço à toa? Percebo, ao menos, que quando estou realizando algo que precisa de atenção ou alguma atividade em grupo (vale balada com os amigos), consigo não pensar. Assim já tá bom – tô conseguindo desenvolver uma simbiose com isso aí que eu não sei como chamar. Sentimento? É, talvez seja.

Mas a vida tem umas surpresas engraçadas. Agora escuto Beatles, e lembro de outras coisas. Outra pessoa. Que não ocupa este lugar, mas já é alguém pra dividir o espaço nos meus pensamentos. Se quero? Sei não. Não sei mesmo...

Ando lírica, sei. E não acho isso ruim. Gosto do meu lirismo esquisito, meio objetivo demais, às vezes, e não-romântico para quem não está acostumado, ou não tem bom humor. Ah, eu tenho... E gosto disso também. Sorrisos e risos são muito afrodisíacos, sim senhor. E românticos, por que não?

Depois de discorrer sobre a estranheza desta noite refletida cá dentro e sua relação com minha playlist, encerro com Jack Johnson. Dreams be Dreams. No randômico. Será que é um sinal? Olha que eu acredito...


Espinhos

Cactus Sunset - Saguaro, de Joel Hanger (Delusionist no deviantART)

"O teu nome continua intacto
no deserto da minha mente
como um cacto."

(Espinhos, de Thiago Neloah)

...

Almost Roy, de Isabela Almeida (belaalmeida-s no deviantART)

Mas este
não é o meu problema
O meu problema
é te amar tanto
e não valer a pena

Microconto

Phases oppositions, de Kmye Chan (kmye-chan no deviantART)

"Sequer houve um início. Como seriam felizes para sempre?"

(Vitor Hugo Munaier)

Tendo a Lua

Foto da lua cheia tirada do quintal do vizinho dos outros (Crédito da foto: Thiale Moura)

"Hoje joguei tanta coisa fora
Vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias, gente que foi embora...
A casa fica bem melhor assim

O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Querendo ver o mais distante, e sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu

Tendo a lua,
aquela gravidade onde o homem flutua

Merecia a visita,
não de militares,

mas de bailarinos,
e de você e eu..."

(Tendo a Lua, d'Os Paralamas do Sucesso)

26.10.07

Olhos Sensíveis


"Meu oftalmologista
disse
que tenho olhos
sensíveis

Fitei-o com ar de
Poeta."

(Leonel Delalana Júnior)

Flor de Lótus

Raindrops, de Charlene Chua (sygnin no DeviantART)

"No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração."

(Flor de Lótus, de Rabindranath Tagore)

...

Lost In A Book, de Kyle Keali'i Apuna (indie-cisive no DeviantART)


Já que minha vida
é um livro aberto
posso escrever
criptografado?

25.10.07

Amargo

Forbbiden fruit, de Daniela Uhlig (lolita-art no DeviantART)

"O vinho podre que escorre das xícaras
O mel amargo, o meu coração
De onde quer que tudo venha
Tudo irá pra onde nada nunca se alcança
De onde quer que tudo venha
Tudo irá pra onde nada nunca se alcança

Tenho a memória de tudo que existe
Tudo que é triste e alegre ou não
Eu guardo as flores mortas na sala
Eu faço sala pro tempo
Eu guardo as flores mortas na sala
Eu faço sala pro tempo

Ainda que tarde, agora que é tarde
Sempre é cedo, cedo
Ainda que tarde, agora que é noite
Eu sinto medo..."

(Amargo, de Zeca Baleiro)

...

Horizonte, óleo sobre tela de Henrique Vaz Duarte

Estarei eu bela
no seu belo horizonte?

Finalmente, Florbela!

Florbela Espanca (1894-1930), poetisa portuguesa e precursora do feminismo naquele país

Falo tanto de Florbela e, no entanto, não tinha um único poema seu no meu blog. Quando apercebi-me, não era tarde demais: ei-lo! (E tenho certeza que vai ter gente me zoando por ter colocado essas ênclises todas...)

"Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vinda foi três vezes santa!

Erva do chão que a mão de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!

Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda..."

(Supremo Enleio, de Florbela Espanca)

Vivem em nós inúmeros

Plane Filling II, de M. C. Escher

"Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo."


(Vivem em nós inúmeros, de Ricardo Reis)

24.10.07

Retratação pública e particular

Eu queria insistir na idéia de ter um blog bonitinho, mesmo que sacrificasse um pouco os comentários. Não deu. Foram muitos contra uma, até que, depois de um telefonema de hoje pela manhã, me convenceram. Mudei. Até transferi os posts do blog antigo, para não caírem no baú do esquecimento. Pronto.

E até que ficou bonitinho! rs

As coisas como elas são...

Foz do Iguaçu. Fotografia retirada do site http://www.gobrasil.net/hotels/fozdoiguacu/indexPOR.shtml

"Conheceram-se em
Foz do Iguaçu.
Ele fez promessas e
juras de amor.
Era tudo cascata."

(Confiar desconfiando, de Reynaldo Sanchez)

...

Pôr-do-sol visto do Solar do Unhão (Crédito: Claudiane Janebro)

O mar
encanta
a minha amiga
que arde

...

(que ironia, do site do Senado...)


Que coisa predatória
É o cheque pré-datado!

Blog Antigo - postagem de 18/09/07

Pucca e Garu, do desenho sul-coreano Pucca - www.puccaclub.com

"I want a love that’s right,
But right is only half of what’s wrong,
I want a short haired girl
Who sometimes wears it twice as long.

I’m stepping out this old brown shoe,
Baby, I’m in love with you,
I’m so glad you came here
It won’t be the same now,
I’m telling you.

You know you pick me up
From where some try to drag me down,
And when I see your smile replacing,
Ev’ry thoughtless frown,

Got me escaping from this zoo,
Baby, I’m in love with you,
I’m so glad you came here
It won’t be the same now,
I’m telling you.

If I grow up I’ll be a singer,
Wearing rings on every finger,
Not worrying what they or you say.
I’ll live and love and maybe some day,
Who knows baby,
You may comfort me.

I may appear to be imperfect,
My love is something you can’t reject,
I’m changing faster than the weather,
If you and me should get together,
Who knows baby,
You may comfort me.

I want that love of yours
To miss that love is something I’d hate,
I’ll make an early start
I’m making sure that I’m not late,

For your sweet top lip
I’m in the queue,
Baby I’m in love with you,
I’m so glad you came here
It won’t be the same now
When I’m with you."

(Old Brown Shoe, dos Beatles)

Blog Antigo - postagem de 18/09/07

Boca Misteriosa Que Aparece Nas Costas da Minha Ama de Leite, de Salvador Dalí.

"I love you so,
I'm the one who wants you,
Yes, I'm the one who wants you..."

(I'll Be Back, dos Beatles)


15h50 - Leio e-mails antigos, finalmente convencida pelo Yahoo, que agora incita as pessoas a buscar mensagens de paixões antigas. Pra que isso, né? Ao mesmo tempo, abro, em outra janela do navegador, o meu horóscopo. Coincidência? Subconsciente? Esperança? Sei lá. Vai que encontro uma correlação? Possibilidades quase nulas. Mas o que é a vida sem tentativas, não é, minha gente?

15h54 - Lembro que, da pasta Importante!, criada no auge da historinha, as mensagens foram parar na pasta Etc. Uma tentativa (fracassada, sei) de fazer parecer algo com menos importância. E de não saltar aos olhos todas as vezes que olhasse para a tela. Não salta aos olhos, ao menos serve para alguma coisa. Mas não faz disso menos importante.

15h56 - Abri a primeira mensagem. Leio ou fecho o navegador sem nem olhar? Hum... Muitas dúvidas.

15h57 - Achei mais sensato olhar primeiro o horóscopo. Tá, sensato não foi. Tô fugindo mesmo, assumo. Nossa, o horóscopo sabe das coisas:
"Sentimentos profundos estão marcando seu dia. Pessoas do passado podem estar voltando à sua lembrança, ou mesmo aparecendo na sua vida. Use mais a razão neste momento."

E eu me culpando por lembrar tanto! Ah, está escrito nas estrelas, caramba, não posso fazer nada. Definitivamente, a culpa não é minha. A pessoa do passado volta à minha lembrança, espero ardentemente que apareça na minha vida. Seguindo os conselhos do horóscopo, vou usar minha razão.

15h59 - Fechei o e-mail sem nem ler as mensagens. Com um horóscopo filho-da-mãe desses, é melhor não se martirizar.

16h00 - Acabo aqui este post idiota. Agradecimentos a quem leu - se aturaram esta ladainha até aqui, gostam mesmo de mim. Ou me acham engraçada. Sem problemas. :)

Blog Antigo - postagem de 10/09/07

Fotografia retirada do blog Pegadas na cauda de um cometa (pesdomundo.blogs.sapo.pt)


"o amor~tece
apara~quedas
do~ssel
d~onde
nu~vens"

(te~ar, de Christiana Nóvoa)

Blog Antigo - postagem de 05/09/07

O quarto de Arles, de Vincent van Gogh.

"Gosto da casa
Depois que o barulho vai embora
Depois da luz, dos risos
Depois do convívio
Quando respiro sozinha
E ouço cada palavra
Que o coração não ousa
Se existem testemunhas"

(Por dentro 1, de Lou Bertoni)

Blog Antigo - postagem de 03/09/07

Estação Ferroviária de São Francisco, na cidade baiana de Alagoinhas. Atualmente, está abandonada. Esta foto, datada de 1989, foi retirada do site Estações Ferroviárias do Brasil - www.estacoesferroviarias.com.br/ba_paulistana/sfrancisco.htm.

"E o meu coração, embora finja fazer mil viagens
Fica batendo, parado, naquela estação."
(Naquela estação, de Caetano Veloso)


Na odisséia de tentar esquecer alguém, vamos atrás de outros alguéns, saímos, nos divertimos, viajamos, procuramos motivos para ficarmos cada vez mais ocupados e pensarmos menos. E aí, a gente se dá conta de que não consegue esquecer esta pessoa. Não que isto seja tão ruim assim. Mas não é necessariamente bom. É... incômodo. Como cólica menstrual de gente normal, que não é uma dor incapacitante, mas é chata como o diabo!

Você já aprendeu a viver com isso, já se conformou que o cara não te quer, já aprendeu a lidar com a rejeição, mas ainda não perdeu a esperança. Tudo bem que a esperança é a última que morre, mas esta está sobrevivendo demais! Se ela não quer morrer, por que não dorme, hiberna, some da vista? Tá ficando chato.

Há contradição maior do que um coração bater parado (na mesma estação)?

Blog Antigo - postagem de 02/09/07


Alguém sabe a tradução? Eu também não. Rs
(Vamos aprender bambara!)


O laka lamma le

O laka lamma le

O laka lamma le dja

O laka lamma le


Se jolaka lamma le

Se jolaka lamma le

Se jolaka lamma le dja

Se jolaka lamma le

O laka lamma le

O laka lamma le

O laka lamma le dja

O laka lamma le


Se jolaka lamma le

Se jolaka lamma le

Se jolaka lamma le dja

Se jolaka lamma le


Ay ihe geba geta singurna yeah

Ilina in a nara sa

Oh oh

Ili la serna najih neja

Ilina ina nara

Ilina ina nara sa

Ili la serna najih neja

Ilina ina nara


A sid la nemma ra do m’sebbe toggorro no yee

Tama yoo pabba yo

A sid la nemma ra do m’sebbe toggorro no yee m’o

Tama yoo o’ pabba ho fago pib’ee


Ori tali ma je’ye

Ori tali ma je’ye

Ori tali ma je’ye

Ori tali ma je’ye

Ori tali ma!

(Madan, de Salif Keita & Martin Solveig)

Blog Antigo - postagem de 01/09/07

Bailarina, de Joan Miró.

"Pois não é fácil recuperar um grande amor perdido..."
(Que pena, de Jorge Ben Jor)


O que é um amor perdido? É um amor que se foi? Um que nunca esteve? Um que está adormecido? Um amor que nunca mais será vivido? Mas será que nunca mais será mesmo? Quem somos para dizer nunca mais? Ainda mais em matéria de amor!

Quantos relatos sabemos de amores que pareciam impossíveis e que deram certo, em detrimento de outros tão previsíveis que simplesmente não aconteceram. Quem pode dizer que um amor está perdido? Nós não prevemos o futuro, muito menos o que se passa no coração alheio! Quem sabe? Podemos dizer que o amor está perdido quando ele está perdido dentro da gente. Quando você não está com aquela idéia fixa, não pensa mais, mas tem a sensação de que não esqueceu, e que a qualquer instante isso pode despertar.

Tenho essas duas sensações. Pois tenho dois grandes amores perdidos. Um deles, se foi. Quem sabe um dia volta... O outro, está perdido aqui dentro. Não penso, não palpito mais... Mas parece que a qualquer momento aquela loucura volta. O primeiro, estou meio afastada, para curar a ferida. Quem sabe um dia ficamos amigos de fato. O segundo, estava afastada, me reaproximei. E é meu amigo.

E aí, qual dos dois paga a conta?

Blog Antigo - postagem de 31/08/07

Pitanga, esta fruta azedinha e deliciosa! Foto retirada do site http://www.pousadadascores.com.br/hortifrutigranjeiros/pitanga.htm

"I've got sunshine
On a cloudy day..."
(My Girl, The Temptations)


O poeta diz que faz versos como quem chora. Eu escuto músicas que são afagos. Você já sentiu isso? Músicas que, ao tocar, parecem abraçar-lhe, que são como um cuidado. Acabo de ouvir uma delas - My Girl, do grupo The Temptations. Não consigo ouví-la sem que uma sensação boa tome conta de mim. É um afago, assim como tomar um chocolate quente numa noite fria. É a sensação de que tem alguém cuidando de você. Neste caso, você mesmo. Mas é um cuidado, isso que vale.

Afagos no coração, como a comidinha da mamãe, o sequilho da vovó... Uma ligação inesperada de quem se ama. Uma lembrança de um amigo distante. Uma porção de pitangas colhidas do pé. Ganhar uma lata de cajuzinho em vez de ovo de páscoa. Achar algo que você já tinha perdido as esperanças de encontrar. Assistir um musical dos anos 40. Dançar no espelho, cantar no chuveiro. Uma massagem no pé.

Cuidado, carinho... Sensação gostosa!

Blog Antigo - postagem de 17/08/07

Posto iniciático localizado na Quinta da Regaleira, em Portugal (viram, um resgate ancestral agora! Também corre sangue português nestas veias!). Esta foto simplesmente linda foi retirada do site www.portugalvirtual.pt/_tourism/costadelisboa/sintra/regaleirap.html

"Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência."

(Se cada dia cai, de Pablo Neruda)

Blog Antigo - postagem de 13/08/07

Durga, a guardiã protetora sempre atenta, tanto feroz como no amor. É a deusa hindu protetora da lei e da ordem, e a destruidora do mal. Figura retirada do site www.vanadurga.org/news.htm.

"Onde foi exatamente que larguei,
Naquele dia, mesmo,
O leão que sempre cavalguei?"

(Inverno, de Adriana Calcanhotto)


O que faz uma pessoa transmutar-se em outra? Sem querer, sem saber... E sem poder evitar? E o pior: continuar sendo ela mesma? Confuso, né? Demais. Mas é exatamente o que sinto depois dessa minha última paixão.

Sou expert em amores à primeira vista. Acontece de vez em quando. Estou em algum lugar, pensando em qualquer coisa, menos nisso e, de repente, "bato o olho" em alguém. E, durante algum tempo, esse alguém não me sai da cabeça. Uma vez, quando tinha uns 14 anos, aconteceu. Ele era a cara do Brad Pitt. Com uns traços mais suaves. O cara era lindo! E bem mais velho do que eu. Isso foi numas férias, em Itacaré, bati o olho no cara, apaixonei. Não sei o nome, não sei nada, mas passei um bom tempo pensando nele. Louco? Estranho? Mas acontece.

Dessa última vez, preferia que fosse menos sério. Já tinha visto o cara antes, mas não lembrava. E, da vez que eu achava ser a primeira que o via, bati o olho nele e, caraca, olha lá eu me apaixonando de novo. Do nada. Mais uma vez, não sabia nome, nem nada. Mas tinha conhecidos em comum. E comecei a decifrar este mistério. Dava um jeitinho de perguntar a todos quem era, sem dar pinta. Fui construindo uma imagem. Era da mesma faculdade e, no semestre seguinte, peguei matéria com o dito-cujo (acreditem, sem saber). E fui juntando as peças do quebra-cabeça. Já sabia alguma coisa a respeito, a essa altura do campeonato.

Alguns meses depois, a gente acabou ficando algumas vezes, nada sério. Não durou. Nem esqueci. Eu lembro que fazia uma imagem totalmente diferente do que ele é. Achava que ia ser assim mesmo, e que quando o conhecesse melhor, seria pior do que eu pensava. Não era. Era melhor. E eu gostei mais ainda. E certas coisas que eu nunca gostei em um cara, ele tinha. E eu gostava. Aliás, ainda gosto. Só nele.

"Faço longas cartas pra ninguém
e o inverno (...) é quase glacial."


Chove. Mas isso não me deixa melancólica. Passei dessa fase. E, confesso, escrever está me fazendo muito bem. É um desabafo. Mesmo que ninguém o leia.

Gosto, admito. Talvez até ame. Mas não posso ter. E não é igual àquela sensação de querer uma bolsa, um sapato, um carro e não poder ter. Porque essas coisas não mudam tanto a vida. Nem suas idéias. Muita coisa na minha vida mudou desde então. Passei a encarar as coisas de forma diferente. Esperança, terei enquanto não conseguir. Mas vou vivendo. E repetindo que, mesmo sem saber, ele me trouxe muitas coisas boas.

"Lá mesmo esqueci que o destino
Sempre me quis só,
No deserto, sem saudade, sem remorso, só,
Sem amarras, barco embriagado ao mar..."

Blog Antigo - postagem de 11/08/07

O Beijo, de Gustav Klimt.

"Mas vem quebrar, com tuas mãos,
As duras setas do padecer.
Pedra do céu, fogo do ser,
Quieta me abre teu coração."
(Pietá, de Milton Nascimento e Chico Amaral)


Adoro esta tela de Klimt, "O Beijo". Quem conhece a arte deste cara, sabe que ele pinta as mulheres como verdadeiras deusas, poderosas, douradas, supremas, naturalmente sensuais. E aí ele me vem com este quadro, demonstrando que mesmo estas mulheres que exalam auto-confiança sabem ser frágeis diante do amor. Ah, a natureza feminina! A mulher do quadro, quase submissa - mas mesmo nesta posição, de joelhos, não deixa de denotar poder. Seja pela expressão serena do rosto, ou sei lá porquê.

A gente tende a achar que só pode ser uma coisa ou outra: forte ou frágil, caliente ou doce... Ah, pra que este maniqueísmo? Somos mulheres, caramba! "As duas faces de Eva, a Bela e a Fera", como canta a também maravilhosa mulher Rita Lee. Nossa natureza dúbia, tripla, enfim, nos permite ser o que quisermos. E como quisermos. Levei muito tempo e alguns pés na bunda pra perceber isso. Ainda assim, não assimilei totalmente, sempre que a oportunidade permite eu tropeço, sim. Mas sempre que me olho no espelho, me permito fazer caras e bocas. "A miserável", "a santa", "a sofredora"... São papéis que representamos, mas que fazem parte de todas nós. E temos que saber ser cada uma, e ser na hora certa (na hora errada pode dar muita dor de cabeça ou coisa pior).

Mesmo nos dias em que desabo, choro as pitangas, as maçãs e as cerejas, quando sossego, penso: "tá, vamos à outra parte". Tiro essa máscara e reviro o baú procurando uma cara melhor. Pode ser a tal "miserável", ou "a auto-suficiente", ou mesmo "a desencanada". Também são pedaços de mim, e assumem seus postos muito bem nesta hora - não me deixam fazer besteira. Neste caso, achar que sou a pior das mortais não rola - qual é, quem disse que eu sou mortal? Por que não posso ser Afrodite? Não dá pra ser Psiquê o tempo inteiro, né não?

Mudando de assunto, esse quadro também me faz pensar uma outra coisa: que beijo bom esse, hein? Só me lembro de ter sido beijada assim, literalmente enlaçada nos braços, envolvente, uma vez. Outros tentaram, mas esse que me deu o tal beijo "Klimt" (olha, o beijo acabou de ganhar um apelidinho) foi o único que fez certo. Não deu tempo de conhecer direito, nem me apaixonar... Mas torço pra ele aparecer no meu caminho de novo. E me dar outro beijo "Klimt".

Blog Antigo - postagem de 11/08/07


Fotografia retirada do site
www.directline.com/home/party.htm


"Não quero mudar você,

Nem mostrar novos mundos

Pois eu, meu amor, acho graça até mesmo em clichês.

Adoro esse olhar blasé

Que não só já viu quase tudo

Mas acha tudo tão déjà vu mesmo antes de ver.


Só proponho alimentar seu tédio.

Para tanto, exponho a minha admiração.

Você em troca cede o seu olhar em sonhos

À minha contemplação:

Aí componho uma nova canção.


Adoro, sei lá por que,

Esse olhar

Meio escudo

Que em vez de qualquer álcool forte pede água perrier.


Adoro, sei lá por que,

Esse olhar

Meio escudo

Que não quer o meu álcool forte e sim água perrier..."


(Água Perrier - Adriana Calcanhotto)

Blog Antigo - postagem de 10/08/07

Pintura rajastani de Sri Radharani, consorte de Krishna (deus hindu do amor). "Seu amor por Krishna é considerado inimaginável, ilimitado e incomparável. Sua beleza é descrita como superior a de milhões de cupidos" (Wikipedia).

"Desejo dizer-lhe as palavras mais profundas, mas não me atrevo, porque temo sua gozação. Por isso acho graça de mim mesmo e transformo em brincadeira meu segredo.

Duvido de minha angústia, para que você não duvide.

Desejo dizer-lhe as palavras mais sinceras, mas não me atrevo, porque temo que não acredite. Por isso as disfarço de mentiras e digo o contrário do que penso.

Me esforço para que minha angústia não pareça absurda para que você não ache que é.

Desejo dizer-lhe as palavras mais valiosas, mas não me atrevo, porque temo não ser correspondido. Por isso me declaro duramente e me orgulho de minha insensibilidade.

Desejo sentar-me silenciosamente a seu lado, mas não me atrevo, porque temo que meus lábios traiam meu coração. Por isso falo disparatadamente, escondendo meu coração atrás das minhas palavras.

Trato a mim mesmo com dureza, para que você não o faça.
Desejo separar-me de você, mas não me atrevo, porque temo que descubra minha covardia. Por isso levanto a cabeça e fico perto de você com ar indiferente.

A constante provocação de nossos olhares remove minha angústia sem piedade."

(Desejo, de Rabindranath Tagore)

Blog Antigo - postagem de 10/08/07

Cartaz do filme O Primo Basílio, com direção de Daniel Filho (Brasil, 2007).

"Basílio não tirava os olhos de Luísa. Sob o véu branco, à luz falsa de gás, no ar enevoado da poeira, o seu rosto tinha uma forma alva e suave, onde os olhos que a noite escurecia punham uma expressão apaixonada(...)"
(O Primo Basílio, de Eça de Queirós)



Li O Primo Basílio nos meus tempos de colégio, e tive a sorte de não ter que lê-lo "para o colégio". Assim, pude desfrutar da leitura sem pressões. Mas não pretendo aqui fazer uma crítica literária, longe de mim - quem sou eu para tanto? A priori, gostaria de registrar minhas lembranças gerais. Esta foi a primeira; a segunda viria numa canção de Marisa Monte, Amor I Love You. Adoro Marisa, mas a música é chatinha - o que não impediu que o trecho falado me chamasse a atenção:

"(...)tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"
(Capítulo I)

Este trecho do livro, utilizado na música, nos dá uma idéia geral do que sentia a personagem Luísa: casada, não saía de casa, o marido era muito bom, mas nunca tinha lhe escrito "sentimentalidades"... Aí chega o primo, paixão de adolescência (uma amiga minha jura que esta é uma combinação fatal!), cheio de amor pra dar... A mulher fica balançada, né? Quem não ficaria?

Pois bem. Agora podemos entrar na parte que eu queria. Hoje entra em circuito o filme O Primo Basílio, com direção de Daniel Filho e globais no elenco. No filme (que eu ainda não assisti), Luísa é interpretada por Débora Falabella, Jorge (o marido) por Reynaldo Gianechinni e o tal Basílio por um tal de Fábio Assunção. Será que pretendiam causar comoção entre o público feminino? O cinema tem o poder de nos envolver no enredo, nos fazer sentir todas as agruras vividas pelos protagonistas...

Imagine você casada com Gianechinni (que, apesar daquele bigode estranho, continua sendo Gianechinni) e, de repente aparece um Fábio Assunção pra confundir a história? Confunde ou não confunde? E agora José, José para onde? Com quem você ficaria?

O cinema (assim como o teatro) funciona, ao menos neste caso, como linguagem ilustrativa da palavra escrita. Por serem linguagens diferentes, o cinema difere da literatura, no sentido de que torna o enredo de fácil compreensão visual, sem deixar de envolver e emocionar o público. Neste ponto, o filme tem de tudo pra ter sucesso: entre Gianechinni e Assunção, com quem você fica, Luísa?

Blog Antigo - postagem de 07/08/07

(Uma das famosas pin-ups do chileno Alberto Vargas, que assinava Varga para evitar confusão com "Getúlio Vargas". Esta é de outubro de 1940.)

“Te ligo afobada
e deixo confissões no gravador.
Vai ser engraçado,
Se tens um novo amor...”

(Anos Dourados, de Chico Buarque)



Não se fazem mais pessoas como antigamente. Nessa afirmação incluo você, aquele ali, aquela acolá, aquele mais adiante... E esta aqui também. Já se foi o tempo em que as pessoas acreditavam no amor e encaravam como uma coisa séria a possibilidade de não ter mais chances com sua alma gêmea. Explico, mas não sem antes fazer uma pergunta: quantas loucuras você já fez por amor? Aliás, você tem feito loucuras de amor? Quando falo de loucuras, entendam como algo saudável, não atos psicopatas, por favor!

Daí explico: hoje a afirmativa de que certas coisas românticas só acontecem em filmes está cada vez mais verdadeira. Sim, porque hoje parece que temos medo de nos declarar, arriscar, fazer papel de bobo... Mas taí, que graça tem amar sem ser bobo? Não pensem que estou com a barra limpa e que estou dando conselhos por larga experiência. Na verdade, ando tão em falta com este assunto que talvez escrever seja uma das ave-marias receitadas em confessionário.

Lembro das vezes em que não liguei a mínima pro fato de estar sendo boba e fiz coisas legais. Uma vez, saí na hora do almoço e fui para outra cidade, só pra surpreender um criaturo que já não era nada meu há algum tempo no trabalho. E quando ele me perguntou o que estava fazendo por aquelas bandas, respondi que tinha ido vê-lo. Só. Ele não acreditou, ao menos no princípio. Mas adorou. E olha que nem era amooooor, era uma paixão legal, mas não era amor. Garanto que o cara nunca vai esquecer, e eu já tenho o que contar pros netos.

Já escrevi cartas, já fiz outras surpresas, já me declarei para amigos de longa data... Mas noto que vem diminuindo a quantidade e a qualidade dessas ações, à medida em que o tempo vai passando. Na verdade, nem ouso chamá-las mais de loucuras de amor. São pequenos lapsos. Muito pouco, diante do medo.

E aí entra ele. O medo. Parece que quanto mais ficamos civilizados, mais aumenta o nosso medo. E diminui a nossa graça, convenhamos. Por medo de parecermos indelicados, de parecermos ansiosos, de parecermos descontrolados, de parecermos lunáticos... Por medo de parecermos. Quando, na verdade, somos. E aí, qual o grilo? Deixa a pessoa saber, isso não vai doer. Quer dizer, doer vai, mas não mata. “E o que não mata, fortalece.”

Quantas chances devemos ter perdido por medo. Medo disso, medo daquilo. Vários sentimentos poderiam até ser correspondidos! Mas o medo não deixou. E essa dúvida vai nos acompanhar pro resto das nossas vidas. A menos que, se ainda for relevante, procuremos esclarecer, sem medo e sem culpa (e sem vergonha também! Pra que vergonha mesmo?), essas pequenas lacunas que podem fazer uma diferença enorme. Por que não?

Isso só acontece em novelas e filmes? Ora, em que eles se baseiam, senão na vida real? Vamos integrar o time de inspiradores da ficção! E vamos viver grandes histórias!