(Uma das famosas pin-ups do chileno Alberto Vargas, que assinava Varga para evitar confusão com "Getúlio Vargas". Esta é de outubro de 1940.)
“Te ligo afobada
e deixo confissões no gravador.
Vai ser engraçado,
Se tens um novo amor...”
(Anos Dourados, de Chico Buarque)
Não se fazem mais pessoas como antigamente. Nessa afirmação incluo você, aquele ali, aquela acolá, aquele mais adiante... E esta aqui também. Já se foi o tempo em que as pessoas acreditavam no amor e encaravam como uma coisa séria a possibilidade de não ter mais chances com sua alma gêmea. Explico, mas não sem antes fazer uma pergunta: quantas loucuras você já fez por amor? Aliás, você tem feito loucuras de amor? Quando falo de loucuras, entendam como algo saudável, não atos psicopatas, por favor!
Daí explico: hoje a afirmativa de que certas coisas românticas só acontecem em filmes está cada vez mais verdadeira. Sim, porque hoje parece que temos medo de nos declarar, arriscar, fazer papel de bobo... Mas taí, que graça tem amar sem ser bobo? Não pensem que estou com a barra limpa e que estou dando conselhos por larga experiência. Na verdade, ando tão em falta com este assunto que talvez escrever seja uma das ave-marias receitadas em confessionário.
Lembro das vezes em que não liguei a mínima pro fato de estar sendo boba e fiz coisas legais. Uma vez, saí na hora do almoço e fui para outra cidade, só pra surpreender um criaturo que já não era nada meu há algum tempo no trabalho. E quando ele me perguntou o que estava fazendo por aquelas bandas, respondi que tinha ido vê-lo. Só. Ele não acreditou, ao menos no princípio. Mas adorou. E olha que nem era amooooor, era uma paixão legal, mas não era amor. Garanto que o cara nunca vai esquecer, e eu já tenho o que contar pros netos.
Já escrevi cartas, já fiz outras surpresas, já me declarei para amigos de longa data... Mas noto que vem diminuindo a quantidade e a qualidade dessas ações, à medida em que o tempo vai passando. Na verdade, nem ouso chamá-las mais de loucuras de amor. São pequenos lapsos. Muito pouco, diante do medo.
E aí entra ele. O medo. Parece que quanto mais ficamos civilizados, mais aumenta o nosso medo. E diminui a nossa graça, convenhamos. Por medo de parecermos indelicados, de parecermos ansiosos, de parecermos descontrolados, de parecermos lunáticos... Por medo de parecermos. Quando, na verdade, somos. E aí, qual o grilo? Deixa a pessoa saber, isso não vai doer. Quer dizer, doer vai, mas não mata. “E o que não mata, fortalece.”
Quantas chances devemos ter perdido por medo. Medo disso, medo daquilo. Vários sentimentos poderiam até ser correspondidos! Mas o medo não deixou. E essa dúvida vai nos acompanhar pro resto das nossas vidas. A menos que, se ainda for relevante, procuremos esclarecer, sem medo e sem culpa (e sem vergonha também! Pra que vergonha mesmo?), essas pequenas lacunas que podem fazer uma diferença enorme. Por que não?
Isso só acontece em novelas e filmes? Ora, em que eles se baseiam, senão na vida real? Vamos integrar o time de inspiradores da ficção! E vamos viver grandes histórias!