31.12.07

Um pouco de definição

Persefone, de Marta Dahlig (blackeri no deviantART)

"Mas como diria o intrépido cowboy, fitando o bandido indócil:
A alma é o segredo, a alma é o segredo,
A alma e o segredo do negócio."
(Balada do Asfalto, de Zeca Baleiro)

Este fim-de-semana foi o casamento da minha amiga-irmã. Eu não sabia se ficava triste, por estar perdendo a minha amiga para um marmanjo, ou feliz, pela felicidade dela. Decidi ficar feliz, porque perdida pra esse marmanjo ela já estava há anos, e há anos eu o tinha tomado por amigo também (se não pode com o inimigo, una-se a ele, não é assim?).
Fiquei feliz, mas não imaginava o quanto isso ia mexer comigo.

Comecei a perceber que não era um acontecimento fácil quando a minha amiga entrou na igreja. Chorei. Eu chorei num casamento, imaginem! Mas não era qualquer casamento. Era o casamento da minha irmã. Irmã esta que, se não pôde ser biológica, a vida tratou de nos explicar que o éramos, sem explicar os porquês destes laços tão fortes.


Chorei quando a vi tão linda! Talvez tenha chorado como a mãe, o pai, o noivo. E comecei a refletir no post anterior deste blog, dos meus medos e incertezas no amor, talvez mesmo na minha desesperança. Comecei a relembrar as muitas histórias de amor juntas naquele ambiente, além daquela que ocupava o altar num duo branco-vestido/preto-terno. Encontros e desencontros, muitos, alguns com final feliz, outros, infelizmente, com finais estranhos.
O amor do altar, antigo, persistente, com momentos regados a lágrimas, e outros com muitas gargalhadas em bg. Um amor que acompanhei de perto, e vi todas as suas dificuldades, dúvidas, sofrimentos e momentos bobos de rostos apaixonados. Não teve jeito, casaram-se. Mais certeza, impossível - era a certeza dos noivos, dos amigos, da família. Ia ser assim mesmo. E foi lindo.

Dos outros amores ali presentes, havia o que começou depois de convivência e se tornou eterno; o que não ficou perto e sofria a perda para outra pessoa; o que começou como consolo e se tornou a razão; aqueles com mais de 20 anos de história; aqueles improváveis que deram certo, e os bonitos que se perderam no tempo... Os que puderam ser e os que não puderam. Mas quase todos os protagonistas estavam felizes. E eu pude ter mais uma esperança que amar pode mesmo dar certo, e voltei a acreditar nisso.

Pensei, então, em mudar os meus desejos, expostos como Algo Muito Difícil de Definir: neste novo ano que vem, me desejo muita sorte, muitas felicidades, muito dinheiro e bons amores, talvez um só. Mas muito bom.

14.12.07

Algo muito difícil de definir

P.A.R.A.D.I.Z.E, de Kmye Chan (kmye-chan no deviantART)

“Poderia se chamar silêncio
Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo
E poderia simplesmente não se chamar
Para não significar nada e dar sentido a tudo”

(Não deveria se chamar amor, de Paulinho Moska)


Bonito para os odes poéticos, mas doloroso para quem vive... Acho que é isso que sinto. Algo que não me impede de viver, nem fada a minha vida à infelicidade, mas que não me deixa.

Acredito muito nesta história de poder amar várias pessoas ao mesmo tempo – são diferentes formas de amor. Assim como amamos nossos pais, nossos amigos, há as formas de se ter seres amados. Podemos transformar estas ligações, querendo, ou mesmo sem querer.

Há pessoas que se tornam importantes na nossa vida, mesmo que o sentimento hoje seja carinho e nada mais. Mas há pessoas que deixam algo latente em nós, que, ao menor estímulo, fazem vibrar todas as nossas veias, artérias, nervos e tudo aquilo que seja possível. Não que não seja possível apaixonar-se por outras pessoas e viver muitas coisas boas e intensas, mas a lembrança destas especiais é muito mais... Sei lá, muito mais.

E sinto que, mesmo vivenciando tudo de bom que a vida promete (e cumpre!), isto que não sei denominar vai me acompanhar, lado a lado, sem me encarar de frente, me fazendo querer ser melhor por alguém que pode não perceber, ou se interessar pelas minhas mudanças. E nessas horas, espero poder ter alguém para enxugar as minhas lágrimas decorrentes destas lembranças, sem me perguntar o porquê exato, e eu me apaixonar ainda mais por ela por estas coisas.

Às vezes sinto muito medo de não poder ficar com a pessoa amada “por toda a minha vida”, seja ela quem for, daqui pra lá. Venho de um contexto um pouco incomum na minha contemporaneidade, de pessoas que se casaram por amor e permanecem assim até hoje. Escuto histórias, muitas histórias, de pessoas que casaram com outras de que gostavam, mas amavam uma terceira; de pessoas que se casaram para não ficarem sozinhas; de pessoas que casaram apaixonadas e se divorciaram com ímpetos homicidas; de pessoas que se magoaram muito nessa história; de pessoas que nunca casaram e se sentem solitárias... Poucas histórias escuto de pessoas que casaram por amor e assim estão há 30 anos, ou de pessoas que optaram por ficar sozinhas e são muito felizes desta forma – e são as duas únicas alternativas que me permito.

Neste ano novo que vem, me desejo muita sorte, muitas felicidades, muito dinheiro e bons amores.

13.12.07

Observar

Escondido (por debilmental no deviantART)

"me vi ali
e te vi também – não sou egoísta!
me encantei com isso e percebi
que não me encontrava à tua vista

achei que não me vias...
mas o que é ver?
não preciso que me vejas:
não sou exibicionista

o que interessa é que observo
e que, apesar da tua roupagem,
imagino,
e começo a me sentir aquilo que esqueci o nome"


(Observar, de Thiago Neloah)

Sacrossanto

Sacrossanto, de Bela Almeida


Minha vida se apóia
Em um palco sacro
E sua finalidade
Remete a um propósito santo

Meu corpo se apóia
Em um amparo sacro
Centro do eu meridiano
Imagem e semelhança do corpo santo

Sendo assim
Santo e sacro
Meu ser
Sacrossanto